domingo, 22 de junho de 2008

Tunguska, os testemunhos

A continuação, transcrevo, traduzidos do inglês, algúns testemunhos do Evento Tunguska, obtidos por Leonid Kulik en suas expedições ao local (extraídos do livro Cosmos, de Carl Sagan, Cap IV, Heaven & Hell)
Cedo na manhã, enquanto todos dormiam, a barraca voou pelo ar junto com os seus ocupantes. Ao voltar ao chão, toda a família sofreu contusões leves, mas Alkulina e Ivan perderam o conhecimento. Quando recuperaram consciência escutaram um forte ruido e viram a floresta em torno deles em chamas e a maior parte devastada.
O seguinte relato é mais impressionante e introduz a descrição de um intenso calor, ruidos e fortes ventos.
Estava sentado no porch de minha casa em Vanovara enquanto tomava o café da manhã e olhava em direção norte. Repentinamente o céu se dividiu em dois, e muito acima da floresta o céu inteiro em direção norte parecia coberto de fogo. Nesse momento senti um forte calor, como se minha camisa tivesse pegado fogo. Quis tira-la e lança-la longe de mim, mas nesse momento houve uma explosão no céu e um poderoso trovão foi ouvido. Fui lançado ao chão fora do porch e perdí a consciência. Minha esposa correu e me trouxe para dentro da cabana. O trovão foi seguido por um ruido de pedras caindo, ou armas disparando. A Terra tremeu, e enquanto continuava tirado no chão, protegí minha cabeça porque tive medo que as pedras cairan encima de mim. Quando o céu se abriu, um vento quente, como de um canhão, correu entre as cabanas do norte deixando marcas no chão...
Mais testemunhas que mostran como o medo frente ao desconhecido se apoderou das pessõas:
Os carpinteiros, depois dos dois primeiros trovões, ficaram atônitos, quando um terceiro trovão resoou cairam para atrás desde o prédio sobre os pedaços de madeira. Algúns deles estavam paralizados e totalmente aterrorizados e tive que acalma-los para que recuperassem a confiança. Abandonamos o trabalho e fomos para a aldeia. Ali, grupos completos de aldeãos completamente aterrorizados, tinham se juntado nas ruas e falavam sobre o acontecido.


Floresta devastada pela explosão de 1908. Árvores caídas junto com postes de telégrafos (árvores em pê sem galhos). Fotografia da Academia Russa de Ciências, expedição de 1927 liderada por L. Kulik.


No seguinte relato achamos pela primeira vez uma menção a um objeto no céu

...repentinamente à minha direita escutei o que parecia como um ûnico disparo forte. Vi um objeto alongado em chamas no céu. A parte dianteira era maior que a cauda e sua cor era como fogo em um dia luminoso. Era varias vezes maior que o Sol, mas menos brilhante, por isso podia ser observado a olho nú. Atrás das chamas arrastrava-se uma cauda que parecia poeira formando pequenos flocos, por detrás das chamas extendiam-se feixes de cor azul. Assim que as chamas sumiram, escutaram-se explosões mais fortes que disparos de arma, o chão pareceu tremer e as janelas da cabana quebraram.
O seguinte texto foi extraído da Wikipedia que cita ao jornal Sibir de 2 de julho de 1908.
Em 17 de junho (N.E.: 30 de junho no nosso calendário atual), em torno das 9 da manhã, observamos um fato natural inusual. Na cidade de N Karelinski (200 km ao Norte de Kirensk), os habitantes viram em direção Nordeste bem acima do horizonte, um objeto brilhante azul-branco estranho imposível de ser olhado que por 10 minutos se moveu em direção do chão. O objeto parecia um cilindro. O céu estava completamente aberto, só na direção do objeto via-se uma núvem. O ar estava seco y quente. A medida que o objeto aproximava-se do chão (floresta) parecia ir sumindo até tornar-se uma gigantesca onda de fumaça preta, e ouviu-se um forte golpe (não um trovão) como se grandes pedras estiveram caindo ou a artilharia disparando. Todas as construções tremeram. Ao mesmo tempo a núvem começou a emitir chamas de formas indefinidas. Todos os aldeãos entraram em pânico e sairam às ruas, as mulheres gritavam pensando que era o fin do Mundo. ( O autor destas linhas estava na floresta a 6 km ao Norte de Kirensk e escutou em direção Nordeste um som parecido com a artilheria que se repeteu por intervalos de 15 minutos pelo menos 10 vezes. Em Kirensk, nas paredes que dão para o Nordeste de algumas construções os vidros se quebraram.)
Os relatos anteriores descrevem cinco tipos de fatos: i) ruido seco e forte ii) fumaça, chamas e calor, iii) tremores no chão, iv) um objeto luminoso no céu e v) vento tipo furacão. Em geral o fenômeno todo parece durar em torno de meia hora, só 10 minutos esteve um corpo luminoso caindo. Mais adiante voltaremos a estas descrições e sua interpretação. Por enquanto ficamos refletindo no terror que devem ter sentido aqueles tranquilos camponese no meio das estepas siberianas aonde por não passar, nem passou a guerra e de repente defrontraram-se com o Fim do Mundo.

Além destes relatos, sabemos que a milhares de kilômetros de distância da Sibéria, na Europa Ocidental as noites ficaram claras entre o 29 de junho e o 2 de julho. Testemunhas dizem que os corpos tinham sombra e que dava para ler jornais mesmo a meia noite. Este fenômenos parece ter relação com o evento Tunguska, embora ainda não bem esclarecida.

Em 1921 o mineralogista Leonid Kulik visitou a bacia do rio Podkamennaya Tunguska e provavelmente tomou conhecimento dos relatos da explosão de 1908. Só em 1927 consiguiu reunir um grupo de trabalho e partir para uma expedição ao local. Ele acreditava que um meteorito caiu em solo russo e queria achar seus remanescentes. Para sua surpressa não achou restos do objeto, mas a visão da floresta devastada o estarreceu. Ele voltou mais duas vezes procurando indícios de seu meteorito, mas sem sorte. Em 1938 conseguiu tirar fotos aéreas que mostraram que a área da floresta atingida pela explosão tinha forma de borboleta. Posteriores expedições nos anos 50 obtiveram testemunhos dos habitantes que disseram ter ficado cobertos de furúnculos após a explosão, médicos da expedição corrovoraram que houve uma epidemia de variola. A falta de evidências de um meteorito levou a formular a teoria de que se tratou de um cometa, que por ser menos denso teria desaparecido completamente em uma explosão a grande altura na atmosfera. Esta teoria ficou como a mais aceita até meados dos anos 80 e de fato, esperava-se obter confirmações por meio da análise do material da cauda do cometa Halley em seu retorno em 1986. Ambas teorias têm prós e contras que serão analizados em próximas entradas. Queremos registrar aqui no entanto, a aparição de uma nova ideia que relaciona o evento Tunguska com um fenômeno telúrico, teoria defendida pelo astrofísico Wolfgang Kundt da Universidade de Bonn. Esta última hipótese nos parece muito bem formulada e será objeto de uma entrada também.

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