segunda-feira, 30 de junho de 2008

Tunguska, a hipótese telúrica

Antes de comentar esta teoria sobre o evento que aconteceu em 30 de junho de 1908 em proximidades do rio Podkammenaya Tunguska, região central da Sibéria, quero apresentar a quem é um de seus maiores defensores, Wolfang Kundt, professor da Universidade de Bonn, Alemanha, nascido em 1931 na cidade de Hamburgo. Sua especialidade é a Cosmologia, mas a estendeu posteriormente às Ciências Planetárias, Geofísica e Biofísica e é o autor do livro Astrophysics: A New Approach (Ed. Springer, 2006) . Além destes méritos, é uma pessoa de grande atividade e excelente humor, ao menos assim me pareceu na série de mails que intercambiei com ele nas últimas semanas. O que mais impressiona em Kundt é sua visão independente, a capacidade de ver os fatos com outra perspectiva. Costuma-se dizer que em ciências, mais importante que achar respostas é identificar perguntas. Para isso é necessário ter um olhar diferente. Ao ler Kundt me acontece o mesmo que quando me defronto com os trabalhos de Fred Hoyle, astrônomo inglês que sempre foi uma voz discordante no mundo da astronomia. Se todos pensan igual, ninguém pensa, diz o físico e filantropo marplatense* Pablo Sisterna. Vamos ver como podemos pensar diferente um fato que a comunidade já condenou ser de origem extraterrestre.

A Proposta

Resumimos a proposta de Kundt e depois a justificamos. Em Tunguska, em 1908 não caiu nenhúm meteorito nem cometa mas aconteceu uma ejeção de 10 milhões de toneladas de gás natural, parte do qual entrou em ignição.


As Justificações

A razão mais poderosa para justificar esta teoría é a falta de uma cratera ou de restos do material que formou parte do meteorito apesar de que foram encontrados restos de meteoritos 100.000 vezes menores.

O segundo motivo é estatístico e resulta chamativo que não fora mencionado até agora. Moramos em um planeta tectonicamente ativo. A igual energia liberada existem mais fenômenos tectônicos ou vulcânicos (eu os chamei de telúricos de maneira geral) que extraterrestres. Walter Álvarez, que junto a seu pai Luis, é um dos criadores da teoria de que dinossauros foram destruidos pelas consecuências climáticas da queda de um imenso meteorito, evalúa que apenas 3% das crateras que tem na Terra têm origem em um asteroide.

Se a este argumento probabilístico adicionamos que o epicentro do evento Tunguska está no centro de uma antiga cratera vulcânica, o Kulikovskii, que faz parte do complexo tectónico-vulcánico de Khushminskii e que um grande número de falhas tectônicas atravessa a regiâo, nosso convencimento só aumenta. Naquele dia fatal de 1908, algumas testemunhas relatam ter observado a aparição de buracos no solo com forma de chaminés com diâmetros de até 50 m e um poço de um km de extensão. A primeira expedição de Kulik em 1927 achou estes buracos cheios de água e descreveu a região central da catástrofe como um caldeirão ou anfiteatro.

É provável que os bólides que observaram as testemunhas no céu fossem os gases acessos. Um dos relatos fala em um objeto brilhante caindo durante 10 minutos... leva menos de 10 segundos a passagem de um asteróide. E o calor sentido a 65 km de distância, em Vannavara, provavelmente foi produzido nas intensas chamas que elevaram-se ao céu. Durante as buscas por material remanescente do meteorito encontraram-se anomalias quîmicas que são consistentes com a emisão de gases terrestres, mas não com a presença de matéria de origem cósmica. Em 1999, uma expedição à zona registrou uma ejeção de gás Radônio que durou umas 4 horas nas proximidades do Lago Cheko, a uns 10 km do epicentro do evento de 1908.

As noites brancas de Europa podem ser explicadas pelo Metano expelido que chegou a uma altura de 500 km onde dispersou a luz solar. Um fenômeno semelhante foi observado durante a explosão do vulcão dea ilha de Krakatoa em 1883.

Kundt apresentou estas conclusões em um congresso internacional dedicado ao evento realizado no ano de 2001 em Moscou e em Krasnoyarsk, capital da provincia russa (mais corretamente o krai) de igual nome onde aconteceram os fatos e em uma série de artigos publicados em revistas científicas. Embora a teoria não conta com muitos aderentes, ele me disse que a TV 3SAT alemã preparou um programa especial que foi transmitido na sexta feira 27/06/2008 com uma participação sua. É importante mencionar que ele dá o crédito da ideia a Andrei Olkhovatov, físico russo, hoje em dia trabalhando de forma independente, grande entussiasta da análise do evento, organizador da conferência de 2001 e de uma similar que no momento de escrever estas linhas está terminando.

Tunguska não é um evento qualquer. Junto com a desaparição dos dinossauros pela colisão de um meteorito de grande porte, é o fenômeno mais citado quando se fala do perigo dos NEAs. Faz parte tanto do acervo científico como do inconsciênte coletivo que sustentam políticas públicas como o programa spaceguard da NASA. Talvez estamos dirigindo esforços e dinheiro no objetivo errado. Talvez estamos provocando maior consternação que a necessária a uma população dia a dia mais neurótica. Precisamos encontrar o equilíbrio justo.

† Este é um livro texto para estudantes de astronomia, no entanto em suas páginas finais Kundt adiciona 100 explicações alternativas a problemas da astrofísica atual. Dentre elas questiona que se tenha observado Buraco Negro algúm. No seu último mail me diz que já são 118 as alternativas... Acabei de comprar o livro por Amazon, confesso estar impaciente por recebe-lo.

* Marplatense é o habitante de Mar del Plata, cidade da Província de Buenos Aires, na Argentina. Por sinal, eu cresci lá, embora não conheço pessoalmente a Pablo.

‡ Recém agora tomo conhecimento do trabalho de Olkhovatov. Se em sua leitura encontrar novas consideraciones que sejam importantes as publicarei em um futuro blog.

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