domingo, 14 de dezembro de 2008

Armagedon

Em 1998 Hollywood decidiu dar atenção para a ameaça de uma colisão contra um asteróide e lançou dois filmes de alto custo de produção, dois blockbusters que deram um grande retorno de bilheteria. Deep Impact dirigida por Mimi Leder e estrelada por um grupo de notáveis dentre os quais estavam Robert Duvall, Vanessa Redgrave e Morgan Freeman e incluia a Frodo Elija Wood foi estreada em maio de 1998. O filme relata a colisão contra um pequeno cometa e como a humanidade intenta reduzir os danos.

Mais espetacular foi Armageddon, lançada em agosto de 1998 e sobre este filme que eu vou a me referir neste post. Armageddon foi dirigida por Michael Bay (The Rock, Pearl harbor) e no rol protagônico tem a Duro de Matar Bruce Willis, o elenco conta ainda com a para mim ainda desconhecida elfa Liv Arwen Tyler vivendo um namoro com Ben Afleck lembrado por sua passagem posterior em Pearl Harbor. O tema musical do filme é I don't want to miss a thing, da banda Aerosmith cujo vocalista é Steven Tyler, pai da Liv. Embora não quero entrar na crítica cinematográfica que não é da minha competência, como espectador posso opinar que o filme é aborrecível, quase insuportável, cheio de lugares comuns, exagerações e um ritmo extenuante que une primeiríssimos planos numa montagem de brevíssimas cenas, diálogos monossilábicos gritados, pessoas correndo sem sentido, chauvinismo norte-americano e uma trama previsível e cheia de situações contraditórias e/ou inverossiméis. Resumindo: Trash!


Por quê dedicar tanto espaço a um filme assim? Porque foi um sucesso e milhares de pessoas assistiram! Como no O dia depois de amanhã uma grande quantidade de pessoas extrairam conclusões a partir de uma trama confusa e evidentemente falsa. Estes filmes formam a opinião de grandes quantidades de pessoas, o que provavelmente criou um inconsciente coletivo. É importante então explicar claramente porquê e onde os filmes estão errados. O argumento de que eles servem para sensibilizar as pessoas é falacioso: uma coisa é sensibilizar, outra é aterrar.

A intriga de Armageddon é simples, um asteróide do tamanho de Texas se aproxima da Terra, e é descoberto quando faltam apenas 18 dias para o impacto. Sem tempo para atuar, os EUA decidem enviar uma missão tripulada para colocar no seu interior uma bomba nuclear que o partirá em dois, os pedaços irão por caminhos ligeiramente opostos, diametralmente separados da Terra, sem toca-la. O grupo que irá perfurar a dura rocha do asteróide é formado pela empresa mais importante de perfurações do mundo, liderada por Bruce Willis e seu genro (Ben Afleck) que serão transportados em uma versão mais moderna e poderosa do Space Shuttle.

Vejamos um pouco os problemas do filme. Um asteróide do tamanho de Texas ( ~ 1000 km) é um planeta anão segundo a nova classificação da IAU. Ceres, por exemplo, é o primeiro membro do Cinturão de Asteróides (entre Marte y Júpiter) a ser descoberto em 1801. Mede 500 km de raio, e tem forma esférica (vide foto abaixo). Sua gravidade é umas 35 vezes menor que a da Terra assim que uma pessoa de 80 kg sentiria um peso próprio equivalente a apenas 2 kg aproximadamente. É obvio, por outra parte, que una bomba nuclear (ou mesmo termonuclear) não consegue partir o planeta em dois, e que não temos motivos para enviar uma missão tripulada a fazer o que boas sondas teleguiadas poderiam fazer muito bem.




Fotografia de Ceres tomada pelo Hubble Space telescope.


  1. O asteróide de Armageddon é completamente deforme, mais parecido com os pequenos asteróides de dezenas ou centenas de metros que orbitam próximos da Terra.
  2. Os astronautas do filme caminham sobre ele melhor que sobre a Lua.
  3. Numa cena completamente contraditória, para passar por cima do que parece ser um grande cânion enquanto avançam sobre um trator que leva os equipamentos de perfuração, ligam uns foguetes que os elevam da superfície e quase saem em órbita. A idéia é correta porque a velocidade de escape do planetóide é de 500 m/s mais ou menos e um pequeno impulso os pode elevar muito. Mas isto contradiz o resto das cenas onde os astronautas andam como si estivessem na Terra.
  4. O asteróide é precedido e circundado por uma nuvem de pequenos asteróides (que de fato são os que anunciam sua presença). Até donde eu sei, asteróides grandes ou pequenos costumam estar isolados ou formando pequenos grupos. Mas não uma nuvem. Este rasto de pequenos objetos se parece com os traços que deixam os cometas e que dão origem às chuvas de meteoros, e se originam na cauda do cometa. Os asteróides não possuem cauda.
  5. Ceres foi descoberto em 1801 usando um telescópio bastante modesto (dezenas de cm de diâmetro) para nossa tecnologia atual, e a uma distância superior aos 300 milhões de km. Por quê razão não iriamos detecta-lo hoje em dia com telescópios de mais de 8 m de diâmetro? Segundo o filme o asteróide viaja a 35.000 km/h e é detectado 18 dias antes da colisão, quer dizer a uma distância de 15 milhões de km. No filme, o diretor da NASA afirma que apenas 8 telescópios são capazes de observa-lo a essa distância!!??
  6. Como já temos falado em uma entrada anterior, é imprevisível o que pode acontecer se partimos um asteróide utilizando bombas. Embora os militares amam esta solução, os especialistas em mecânica celeste e asteróides em geral, a descartam por ser altamente arriscada.

Segundo a revista Sky & Telescope, o filme teve vários assessores científicos... Provavelmente fizeram seu trabalho conscientemente, mas Hollywood tem suas próprias e poderosas razões. Se eu fosse eles, pediria anonimato...

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