terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ciência e Paz

Esta entrada não trata precisamente sobre asteróides. Nem sobre atividade solar e clima terrestre. Mas, se tratando de um blog, podemos dar-nos a liberdade de cambiar, uma única vez, o foco. Sobre tudo se é para comemorar.

Vinte anos atrás, em Buenos Aires, um grupo de alunos de ciências, maiormente de física, lideraram um movimento para criar um juramento que comprometesse aos formandos com os fins pacíficos do uso da ciência. Nascia assim o Juramento de Buenos Aires (tradução minha):

Juramento de Buenos Aires

Ciente de que a ciência, e em particular as suas aplicações, podem trazer prejuizos à sociedade e ao ser humano quando se encontram ausentes os controles éticos adequados, comprometo-me firmemente a nunca aplicar minha capacidade como cientista a fins que possam lesar a dignidade humana, guiándo-me pelas minhas convicções pessoais, baseadas em um auténtico conhecimento das situações do meu entorno e das possíveis consequencias dos resultados que se derivariam de minha labor, não antepondo o lucro ou o prestígio, nem submetendo-me aos interesses dos empregadores ou dirigentes políticos. A pesquisa científica que eu dessenvolver será para benefício da humanidade e em favor da paz.

O Juramento foi ideado durante o Simpósio, Cientistas, Paz e Desarmamento, organizado pela Comissão de Astrofísica da Faculdade de Ciências Exatas e Naturais da Universidade de Buenos Aires e pela própria Faculdade, e recebu apoio financeiro da UNESCO e muitas outras instituições internacionais. O Simpósio foi um grande sucesso. Dezenas de pesquisadores da URSS, EUA, Europa e América Latina (vários representantes do Brasil), expuseram entre 11 e 15 de abril de 1988 seus pontos de vista sobre a reponsabilidade dos cientistas no uso do conhecimento. Muito foi debatido o chamado Inverno Nuclear, e a Guerra nas Estrelas (Iniciativa de Defesa estratégica) de R. Reagan. As exposições foram editadas no livro International Symposium on Scientists, Peace and Disarmament. Um par de anos depois o Juramento foi adotado pela Faculdade e hoje em dia 90% dos formandos o escolhem tornando público seu compromisso com a sociedade e a paz.

Falta dizer que eu pertencia à Comissão de Astrofísica, um grupo de estudantes que buscava fomentar, divulgar e ampliar as possibilidades de estudar astrofísica em nossa Faculdade.

No plano pessoal, o Simpósio me deixou grandes amigos, muitas histórias para contar e uma inenarrável felicidade, cujo pálido reflexo pode se ver na foto abaixo.




Parte da Comissão de Astrofísica, numa pausa durante a discusão do Juramento de Buenos Aires.
De esquerda para direita: Sérgio Santini, Paula da Cunha, eu, Marcelo López, Andrés Schuzny, Agnès Patterson, Gabriela Bagalá e Guillermo Lemarchand. (A pequena cabecinha que aparece entre Andrés e eu, acho que pertence a Gabriela Marani.)

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