sexta-feira, 24 de julho de 2009

Nova Colisão sobre Júpiter

A 15 anos da queda do cometa Shoemaker Levy 9 (SL9), que comentamos na entrada anterior, um novo objeto caiu sobre Júpiter deixando uma mancha preta. O descobrimento foi realizado por Anthony Wesley, um astrônomo amador australiano, em 19 de julho, usando um telescópio de 14,5 polegadas.



Anthony Wesley e seu telescópio


Anthony estava tomando imágens de Júpiter a meianoite, o céu estava ficando ruim para observar, mas de repente percebeu que tinha uma mancha preta suspeita. Continuou tomando fotografias que mostraram que a mancha girava na mesma velocidade que as outras (Júpiter tem um periodo de umas 9 horas, portanto sua rotação é facilmente visível), isto indicava que a mancha estava sobre a superfície e que não era a sombra de um satélite. Depois de fazer vários registros, Anthony correu a divulgar a novidade. A notícia teve ampla divulgação na mídia.





Imagem tomada por Anthony con seu telescópio. O pequeno círculo preto acima a direita é a mancha "suspeita", supostamente criada pela queda de um asteróide ou cometa.

Uma imagem aumentada destacando la mancha.



Qué incrível coincidência! Quince anos depois do evento do SL9, um outro objeto, também cai no hemisfério Sul do planeta (as imágens estão invertidas). Talvez um aviso de que estes fenômenos são mais comuns do pensado. Para mais informações podem entrar no site de Anthony, no siguente link. Em uma entrada posterior trataremos sobre a surprendente quantidade de cometas que caem no Sol, revelado por uma sonda de exploração solar.

sábado, 18 de julho de 2009

Shoemaker-Levy 9 e Júpiter

Nestes dias a mídia lembra com grande destaque a chegada da misão Apollo 11 à Lua. Comemoram-se 40 anos da realização de um dos sonhos mais antigos da humanidade. Um pequeno passo para um homem. Um grande salto para a humanidade segundo palavras de Neil Armstrong, comandante da missão e primeiro homem em pousar os pés no solo lunar, é a frase que resume aquela epopeia da que, de uma forma ou outra, todos nos sentimos partícipes.

Há 15 anos, quando celebrava-se os 25 anos da missão Apollo 11, aconteceu um fato astronômico de singular importância e que também chamou a atenção de todo mundo. No dia 16 de julho de 1994 o Cometa Shoemaker Levy 9, (SL9) ou melhor seus destroços, començaram a impactar na superfície de Júpiter produzindo um espetáculo de beleza única e, no meu entender, importantes consequências sociais.

Carolyn e Eugene Shoemaker descobriram junto com David Levy um cometa em 24 de março de 1993 usando um pequeno telescópio de 40 cm de diâmetro do Observatorio de Palomar na Califórnia. O cometa orbitava em torno de Júpiter e era, na verdade, um trem de fragmentos. Un ano antes tinha se aproximado tanto do planeta que as forças de maré o partiram. Os cálculos mostraram que um ano mais tarde todos os fragmentos iriam impactar sobre a superfície de Júpiter.








Fotografia do Cometa Shoemaker-Levy 9 tomada pelo Hubble Space Telescope em 17 de maio de 1994. Os 21 fragmentos distribuiam-se ao longo de mais de 1 milhão de kilómetros.


Todos os telescópios apuntaram para Júpiter para captar cada uma das colisões. A estrela do momento foi o Telescópio Espacial Hubble, cuja ótica acabava de ser consertada; enquanto que a Internet fez sua estreia como o veículo que permitiu a distribução das imágenes rapidamente pelo mundo inteiro. Foi uma festa da astronomia que começou em 16 de julho, data da queda do fragmento A, até o 22, quando caiu o último fragmento, rotulado de W.








Fotografia em luz ultravioleta de Júpiter tomada pelo Telescópio Espacial Hubble em 21 de julho de 1994. Estão identificados os distintos impactos observados até o momento.


A observação dos impactos permitiu conhecer melhor a atmosfera de Júpiter e a conformação do cometa. Além destas conclusões científicas, colocou abertamente diante da opinião pública o perigo das colisões de asteróides e cometas. Até esse momento a questão não era considerada de forma muito aprensiva, nem sequer pela comunidade astronômica. De repente, SL9 acordou em nós a curiosidade e o medo, surgiram planos de inspecção dos céus, e no âmbito popular, livros e filmes.

No entanto, nos últimos 400 anos, SL9 é o único que vimos ao vivo cair sobre um planeta. Júpiter funciona como um atrator destes objetos. De alguma forma a distribução de planetas no Sistema Solar cria um escudo para a Terra: os planetas maiores (com maior poder de atração gravitacional) estão do lado externo. A Terra está no meio dos planetas telúricos, e além disto a Lua, embora menor que a Terra, é capaz aínda de atrair uma proporção não pequena de NEOs.

De certa forma, este blog é um filho do Shoemaker-Levy 9. Mas, sobre tudo, para mim, aquele foi um dos espetáculos mais bonitos que já vi*.

† Mesmo durante os dias do SL9, lembro que um reconhecido astrônomo argentino disse na TV que era mais provável que um macaco escrevesse o Quijote a um cometa cair na Terra. A frase demonstra, principalmente, a desídia da comunidade com a questão.

* Na República Argentina, aquela semana teve um acontecimiento que consiguiu eclipsar todos os outros: um atentado a uma instituição judáica na cidade de Buenos Aires acabou com a vida de 84 pessoas em 18 de julho de 1994. O atentado a sede da AMIA, cujas repercusões se alastram até hoje, me fez viver como cronista amador, uma das semanas mais angustiantes da minha vida.